segunda-feira, 11 de outubro de 2010

LinkChávena de Chá



A ouvir: http://www.youtube.com/watch?v=wSG_qSXB_n8


Era uma daquelas noites frias em que não conseguia dormir. Fiquei a olhar um bom tempo para o tecto, mas resolvi me levantar e ir para a sala saborar uma chávena de chá, enquanto ouvia música. Calcei os chinelos cinzentos e quentinhos e fui até à cozinha. Coloquei a chávena com água e o saquinho pequenino de chá, no microondas. Fiquei a olhar pela janela, a paisagem que rodeava a casa, sendo acordada pela campainha do aparelho. Peguei na chávena e dirigi-me para a sala. A sala que pensei que fosse estar vazia e fria, óptima para colocar os meus pensamentos em ordem. Óptima para me ajudar a arrumar tudo na minha cabeça, para que finalmente, pudesse dormir, não estava vazia. Deitado no sofá estavas tu. A pessoa que colocava os meus pensamentos no maior reboliço e confusão, estava no lugar onde buscava paz e organização. Ironia ou destino, não o sei. Apenas estavas ali, deitado no sofá encarando o tecto, enquanto ouvias música. Parecia que tinhamos tido a mesma ideia. Só, para minha infelicidade não tinhamos o mesmo sentimento. Até tinhas uma chávena de chá na mesinha redonda de centro da sala. Fiquei a olhar-te do umbral da porta em silêncio. Estavas com um olhar triste e melancólico. Sentei-me na beira do sofá com a minha chávena, quando olhaste para mim e me chamaste. Sorriste como que a demonstrar que não estavas triste, nem pensativo. Tinhas um caderno por cima de ti, caderno que não tinha visto antes de me sentar. Falamos sobre coisas banais, ignoramos o verdadeiro assunto que queriamos tratar. Por fim, disseste que ias dormir e antes de eu te puder perguntar o que te tinha deixado tão abatido, despediste-te com um leve beijo na minha testa. Nada mais foi dito. Sorri e quando olhei para o sofá, vi que o caderno preto ainda lá estava. Sabia que não deveria ler, mas ao mesmo tempo algo me convidava. Pousei a chávena na mesa e segurei o caderno. Tinha apenas duas frases escritas: Sei que estás a olhar para mim, como sempre com a tua chávena de chá. A minha maior tristeza é não conseguir dizer que te amo!

Nuna*