A chuva bate no vidro tão transparente que podia jurar que nada existia entre os alumínios da janela. A chávena branca com motivos florais emana um vapor adocicado enquanto repousa num sono inocente, esperando ser a escolhida para dar a provar o líquido acastanhado que alberga. A caneta preta e branca jaz morta sobre o bloco amarelo. Morta? Porquê? Quem cometeria um crime tão bizarro como matar uma simples e incapaz de sentir culpa caneta.
-Tu!
-Eu?-perguntas ao ler isto.
-Sim, tu! Tu e as tuas palavras frias. Tu e as tuas atitudes de "não estou nem aí para o que dizes". Tu e as tuas frases que fazem desmoronar o meu mundo.Não me resta mais nada para escrever. Todos os lamentos aquela pobre e hoje triste caneta já descreveu. Não há mais nada neste deserto que se tornou a minha mente.
-Mas podes continuar a escrever- dizes tu numa tentativa frustrada de me animar e restituir a alegria à minha melancólica caneta.
-
Não, recuso-me a descrever o que tive tanto trabalho a enterrar. -E se eu desenterrasse não ligarias. Injusta? Não. Realista, apenas te conheço e sei que quando magoas, magoas a sério. Sem dó nem piedade. Essa sim, é a mais pura verdade!